Eu odeio aniversários! (não, não é meu aniversário, que, segundo consta, acontece apenas na segunda metade do ano)
Acho que esse evento só serve mesmo para afastar ainda mais as pessoas que eu gosto de mim.
Digo isso porque eu não sou uma pessoa comum e as pessoas comuns não entendem ou aceitam isso. Eu realmente não acho relevante contar o tempo nem comemorar a passagem dele. O tempo continuará passando, quer nos lembremos dele ou não; quer comemoremos ou não.
Mas as pessoas ainda fazem questão de receber presentes e parabéns todo ano, no mesmo dia e mês, e eu não faço a menor questão de atender a essa espectativa, mas as pessoas ainda insistem.
O que faço? Finjo que me importo, porque as pessoas acreditam que precisam ser tratadas com gentileza. Ou finjo que não me lembro, o que faço com mais frequência, mas algumas pessoas parecem não entender a indireta, mesmo sabendo que esse imbecil desse Facebook vive escrevendo ali no canto que tem alguém fazendo aniversário hoje.
Agora, amigos que se importam em ter uma vida social, me respondam a seguinte questão:
Por que as pessoas têm o costume de preferir se relacionar com uma pessoa gentil do que com uma pessoa sincera?
Tenho refletido bastante a esse respeito e cheguei à conclusão que, na maioria qualificada das vezes (cerca de 4/5), não consigo ser os dois. Não que eu me esforce, mas não consigo.
Os casos de aniversário são os mais emblemáticos (embora falecimentos causem certas situações estranhas também): ou dou os parabéns por uma coisa tão esdrúxula quanto fazer aniversário (pura gentileza sem qualquer sinceridade) ou não dou a mínima para o dia em que alguém nasceu, afinal trata-se apenas de ter passado mais um ano desde que você foi expelido pelo corpo da sua mãe (pura sinceridade, mas me chamam de grosso toda vez que falo isso).
À exceção dos carcereiros do Dantes em Monte Cristo, alguém dá a um prisioneiro lembranças de cada ano em que ele cumpre sua pena? Não? Nem eu!
Por que as pessoas ainda ficam chateadas quando não dou os parabéns a elas? Elas preferem que eu minta, dizendo o quão importante é ter vivido mais um ano? Não é!
Se fossem traficantes ou dependentes químicos tudo bem, afinal, nesses casos, um dia a mais de vida pode ser fartamente comemorado (embora nos dois casos a situação periclitante seja culpa da própria pessoa). Agora, pessoas que estão tranquilas, vivendo normalmente, ficando magoadinhas por não receberem a “devida” congratulação por algo (ficar vivo) que não é mais que sua obrigação?
Por favor, tenham um pouco mais de amor próprio ou, ao menos, de respeito. Essa necessidade de afagos é de uma egolatria irritante. Eu não me importo com sua idade, mas com o que você pode me ensinar do tempo que você tem vivido.
Ficar mais velho não é nada extraordinário (assim como morrer). Até amebas envelhecem (e morrem), é o ciclo natural da vida. Você acha que é especial? Por que? Por ser pluricelular, ter telencéfalo desenvolvido e polegar opositor? Não é!
Ao fim e ao cabo, todos somos apenas um monte de ossos dentro de um saco de carne e pele (e gordura, no meu caso), assim como qualquer outro animal. Tudo bem organizado, verdade, mas nada mais que isso. Temos nossa consciência, mas isso não torna o momento em que somos expurgados do organismo materno (ou quando nossa consciência se liberta do corpo) uma data especial.
Afinal, só tomamos consciência real de que somos alguma coisa bem depois do nascimento.
Taí: deveríamos comemorar o nosso aniversário como sendo o dia em que descobrimos que existimos, afinal, qual a diferença entre o que somos ao nascer e um animal qualquer? Nenhuma! Só comemos, babamos, dormimos e cagamos (não necessariamente nessa ordem o com a mesma frequência). Só depois de muitos meses que começamos a interagir realmente com o mundo e percebemos que o mundo interage conosco. Neste momento é que passamos a saber que existimos, ativando nossa consciência.
Nosso nascimento, em verdade, só é especial para nossos pais, que lembram o momento. Para nós é irrelevante, pois não lembramos de nada. O sentimento, ao menos o meu, depende quase que exclusivamente da memória, então não consigo sentir nada sobre um fato de que não me lembro, logo, não tenho como ficar feliz pelo dia em que nasci (não me lembro), assim como não consigo ficar triste com a morte de pessoas que não conheço (curiosamente é que choro assistindo alguns filmes, mas não choro na vida real). Se bem que não fico triste com a morte das pessoas que conheci e das quais tenho lembranças também, mas isso é outro tópico.
Enfim, não comemoro aniversários: os meus ou de qualquer pessoa. Também não gosto de ir a funerais ou enterros (se possível, gostaria de nem estar presente ao meu próprio funeral). Alguém quer ser meu amigo? Conviva com isso e não me aborreça com carências exarcebadas.
Quem tem amor próprio não precisa da aprovação dos outros.
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